A grávida com doença renal avançada e que precisa de suporte renal artificial (SRA), mais conhecido como terapia renal substitutiva (TRS),deve receber cuidados especiais. Isso porque, trata-se de uma gestação de alto risco, com tendência a apresentar uma série de complicações materno-fetais.
Neste artigo, mostramos a importância do acompanhamento multidisciplinar para mulheres nessa condição. Esclarecemos, também, as especificidades da hemodiálise na gravidez e se a doença renal crônica (DRC) pode prejudicar a saúde da gestante e/ou do bebê. Confira!
Mulheres com doença renal crônica avançada podem engravidar?
Sim, mulheres com DRC avançada podem engravidar. Entretanto, a taxa de gravidez nas pacientes que precisam de suporte renal artificial é bem menor do que no restante da população feminina em idade fértil. Ao mesmo tempo, o risco de complicações maternas e fetais é bem maior.
A boa notícia é que, nos últimos anos, o número de gestações bem-sucedidas (taxa de nascidos vivos) vem aumentado. Para tanto, é preciso seguir à risca os cuidados prescritos tanto pelo obstetra, como pelo nefrologista, assim como às orientações do nutricionista. Além disso, o suporte emocional oferecido pelo psicólogo também pode ser de grande valia durante o pré-natal de alto risco.
Quais cuidados devem ser tomados pela grávida com doença renal avançada?
Geralmente, a grávida com doença renal avançada precisa de um maior tempo semanal de diálise. Isso é importante para:
- a manutenção dos níveis baixos de ureia;
- a adequação do perfil tensional (pressão arterial);
- o controle das alterações do metabolismo fosfo-cálcio;
- a prevenção de flutuações eletrolíticas;
- o controle da anemia; entre outras medidas.
Ao mesmo tempo, deve-se identificar e corrigir déficits nutricionais. Também é necessário adotar cuidados gerais para prevenir infecções.
Além disso, é preciso fazer um monitoramento rigoroso do crescimento e do desenvolvimento do bebê. Pode ser necessário, inclusive, ingerir doses mais elevadas das vitaminas hidrossolúveis, ácido fólico e minerais usualmente indicados na gravidez.
Realiza-se, ainda, uma revisão detalhada dos medicamentos em uso, a fim de evitar o consumo de agentes teratogênicos (qualquer substância que pode afetar o feto). Isso é importante para prevenir o risco de malformações.
É imprescindível, também, rastrear a presença de bacteriúria assintomática (condição responsável pela ocorrência de infecções urinárias) a cada trimestre. Sem o devido controle, essas infecções podem evoluir para pielonefrite, levando à piora da função renal.
Como funciona o suporte renal artificial na gravidez?
De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN),a hemodiálise é o suporte renal artificial de escolha para a grávida com doença renal avançada. Assim, após a confirmação da gestação, o nefrologista ajusta a frequência das sessões, prescrevendo uma diálise mais intensiva de modo a:
- ajudar no controle da hipertensão arterial;
- reduzir o risco de polidrâmnio (excesso de líquido amniótico);
- melhorar a nutrição maternae
- prevenir a prematuridade e o baixo peso ao nascimento.
Em média, a indicação mínima é de 20 horas de hemodiálise por semana. No entanto, a recomendação deve ser individualizada, com base na avaliação da função renal residual — obtida por meio do resultado do clearance de insulina. Muitas vezes, os esquemas de hemodiálise na gestação acabam sendo mais intensos, com doses semanais de 36 horas.
Já para pacientes que realizavam diálise peritoneal, sugere-se a conversão temporária para a hemodiálise (realizada na clínica especializada ou no hospital). Isso porque, com a evolução da gestação, o aumento do volume uterino e as alterações na pressão do abdômen tornam a superfície de troca insuficiente. Ao mesmo tempo, existe o perigo de o tratamento desencadear reações inflamatórias ou processos infecciosos.
Mas, a mudança é recomendada, apenas, durante o período gestacional. Depois do parto, geralmente, a mulher pode retomar a modalidade terapêutica que realizava anteriormente.
E tem mais: para mulheres em tratamento renal conservador, mas com piora progressiva da doença, pode-se considerar iniciar as sessões de hemodiálise durante a gestação. Nesse caso, objetiva-se promover um melhor controle hídrico e eletrolítico. Esse cuidado, vale ressaltar, deve ser adotado mesmo em gestantes assintomáticas, devido ao risco de toxicidade fetal ligado aos compostos nitrogenados.
A doença renal prejudica o bebê ou causa complicações para a mulher?
Durante a gestação, o organismo feminino passa por adaptações fisiológicas, incluindo o aumento na taxa de filtração glomerular (TFG) e na taxa de proteinúria. A DRC, por sua vez, pode prejudicar essas adaptações, levando a desfechos adversos — sendo que, quanto menor a função renal, maior o risco de complicações. É o caso, por exemplo:
- de quadros de hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia e parto prematuro, além da exacerbação da doença de base (como diabetes, hipertensão arterial, entre outras) e da progressão da própria DRC, para a mulher;
- do risco aumentado de aborto ou de morte neonatal, da restrição de crescimento para a idade gestacional e do baixo peso ao nascer, para o bebê.
Por isso, o tratamento dialítico adequado e a vigilância multidisciplinar são cuidados essenciais para a grávida com doença renal avançada. Graças as elas, pode-se prevenir ou, pelo menos, controlar os efeitos deletérios da DRC, favorecendo uma gestação e um nascimento bem-sucedidos!
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